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domingo, 29 de maio de 2011

Segurar o xixi aumenta o risco de infecção urinária

Mulheres com incontinência podem ter o problema agravado ao conter a vontade de ir ao banheiro

Beber água e fazer xixi com frequência é bom para evitar os dois problemas

As mulheres têm mais resistência do que os homens na hora de segurar o xixi, mas também estão mais expostas às infecções urinárias por causa disso.

Pior ainda se resolverem beber pouco líquido para não passar aperto fora de casa. Esse hábito, alertam os médicos, pode agravar as complicações no trato urinário.

“Tudo começa na questão cultural”, resume o ginecologista Leonardo Bezerra, presidente da comissão de uroginecologia da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).

Muitas mulheres são ensinadas, desde pequenas, a não usar banheiros fora de casa. De fato, alguns banheiros públicos não inspiram muita confiança e são pouco higiênicos. “Para o homem é mais fácil por uma questão anatômica”, compara o médico.

Por um lado, o organismo feminino se adapta aos hábitos mais contidos. “Com o passar das semanas, dos meses, dos anos, a mulher consegue aumentar a capacidade”, aponta Bezerra. Por segurar o xixi, ela consegue suportar mais tempo sem ir ao banheiro.

Parece até algo mais higiênico, mas é justamente o contrário. “O jato urinário leva embora as bactérias que estão na uretra”, explica o médico. Uma das funções da urina é “lavar” o trato urinário para evitar que bactérias da vagina causem infecções na bexiga. Em suma, mulher que segura o xixi tem mais risco de sofrer infecções.

Seis vezes

Se a mulher ingerir a quantidade necessária de água por dia, cerca de dois litros, ela deve ir ao banheiro de seis a sete vezes por dia. É preciso fazer a hidratação de forma fracionada para que a necessidade de ir ao banheiro aconteça em intervalos de duas a três horas. Assim, a mulher conseguirá se manter hidratada ao longo do dia, e o trato urinário estará protegido. Contudo, não é raro o hábito de passar o dia sem beber água e compensar a sede à noite, poucas horas antes de dormir.

“Isso aumenta o risco de noctúria”, alerta a ginecologista Raquel Figueiredo, do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual (Iamspe), de São Paulo. O problema consiste na necessidade de levantar no meio da madrugada para urinar. Os rins, normalmente, funcionam mais quando a pessoa dorme porque a posição já favorece o retorno do sangue venoso. Se a ingestão de água for alta à noite, o processo todo faz a bexiga encher mais rapidamente.

Além de ter o sono prejudicado, a mulher também passará a ter um risco aumentado de sofrer quedas. “Mesmo assim, beber muita água à noite é um equívoco comum entre as mulheres”, aponta o médico.

A baixa ingestão de água costuma ainda ser agravada pela ingestão de bebidas estimulantes, como o café. Ele tem propriedades diuréticas, que podem dar a falsa ideia de saúde ao intensificar a vontade de ir ao banheiro. Mas o estímulo não é uma resposta natural à hidratação adequada, ele está sendo forçado pela propriedade diurética do café. A mulher vai muito ao banheiro, mas sem estar devidamente hidratada, o que só irá agravar a desidratação. Não bastasse, bebidas estimulantes tendem a prejudicar quadros de osteoporose e agravam a perda de massa óssea mesmo antes da doença se estabelecer.

Diabetes

Mulheres com diabetes têm excesso de açúcar no sangue e isso faz os rins funcionarem em ritmo mais intenso, produzindo uma quantidade maior de urina. A diferença é sutil. Mas a mulher com diabetes descontrolado sente mais sede porque vai mais ao banheiro, e não o contrário.

“Mas isso acontecerá apenas se o diabetes estiver descontrolado”, alerta o médico. As idas excessivas ao banheiro, em pessoas que já conhecem sua condição diabética, podem servir como indicador de descontrole da doença.

Incontinência

Segurar o xixi também é má ideia para mulheres que sofrem de incontinência urinária por esforço. Neste caso, a urina escapa quando a mulher realiza algum esforço, mesmo que ele seja algo bem pequeno, como um simples espirro.

“Há mulheres que sofrem muito com isso. Já tive pacientes que andam com uma sacola só para ter uma troca de roupas, caso algum acidente mais grave aconteça”, afirma Raquel.

A solução está justamente nas idas frequentes ao banheiro. “Se a bexiga não estiver cheia, o risco dela vazar é menor”, aponta Bezerra. Esse cuidado deve receber atenção especial nos meses mais frios do ano.

“Quando está calor, o corpo redistribui seus líquidos nas regiões periféricas do corpo para resfriá-lo. Perde-se líquidos com o suor”, descreve o ginecologista. No frio, a mulher perde menos líquido como suor e há uma concentração maior dele na circulação sanguínea.

Mais sangue no corpo significa mais sangue sendo filtrado pelos rins, e mais urina sendo produzida. Logo, é correto dizer que no frio as pessoas têm mais vontade de urinar.

Marcar no cronômetro

Os médicos só recomendam ir ao banheiro com hora marcada quando a mulher está em fase pós-operatória, pois alguns procedimentos cirúrgicos interferem ou tem a recuperação prejudicada sem esvaziamentos regulares da bexiga.

Em pessoas fora dessa condição, o ideal é marcar o número de vezes que o banheiro é visitado para ter uma referência e, partindo dela, verificar como estão os hábitos de hidratação.

Não basta apenas beber água com frequência, tente também ingerir frutas e vegetais, que são alimentos com bom potencial de hidratação. A hidratação inadequada e segurar o xixi são dois fatores de risco que podem explicar quadros recorrentes de infecção urinária. Mas a causa para isso pode ser outra também. Não deixe de visitar um ginecologista com regularidade, ao menos uma vez por ano, e relate este problema para uma investigação clínica mais apropriada.

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