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quinta-feira, 30 de junho de 2011

Empresas procuram vacina para febre amarela com menos efeitos adversos

Resultado de testes clínicos renova esperança de um produto mais seguro que não utilize formas atenuadas do vírus; alternativa permitiria vacinações em massa para afastar fantasma de epidemia urbana da doença e ajudaria a suprir demanda reprimida

A principal revista científica da área médica - o The New England Journal of Medicine (NEJM) - publicou recentemente resultados promissores de uma nova vacina contra febre amarela. O artigo representa o último lance de uma corrida tecnológica. Empresas de vários países buscam uma alternativa mais segura para a vacina criada em 1936.

Desde então, o imunizante é produzido com uma cepa de vírus atenuados cultivada em embriões de galinha (mais informações nesta página). Apresenta alta eficácia, mas possui um grave inconveniente: em pouquíssimos casos - dois ou três em centenas de milhares -, o vírus pode se tornar selvagem. A pessoa desenvolve, então, uma forma agressiva da doença que, em cerca de 60% dos pacientes, leva à morte.

"É o problema das vacinas com vírus atenuados", explica Cláudio Struchiner, da Escola Nacional de Saúde Pública (Fiocruz). "Ocorre o mesmo com a poliomielite vacinal (paralisia associada à vacina da pólio)."

Alternativas. O estudo do NEJM descreve os testes de uma vacina feita com vírus da febre amarela inativados ("mortos") em 46 indivíduos saudáveis. Depois da segunda dose, todos desenvolveram proteção contra a doença.

Os cientistas - a maioria da empresa americana Xcellerex - lamentam a necessidade de duas injeções para conferir proteção. "Para chegar a uma só, vamos aumentar a dose e testar outros adjuvantes (substâncias que aumentam a eficácia)", afirma Thomas Monath, autor do estudo.

O maior produtor mundial de vacinas contra febre amarela é o laboratório público brasileiro Bio-Manguinhos, ligado à Fiocruz, com até 50 milhões de doses anuais. Em janeiro, a instituição assinou um contrato com o Centro Fraunhofer para Biotecnologia Molecular e com a empresa iBio, ambos dos EUA. A parceria visa à criação de planta transgênica que produza uma proteína da cápsula do vírus, principal ingrediente da vacina. A alternativa seria mais segura que o produto da Xcellerex, pois o vírus da doença não estaria presente no processo de produção.

"Testes com animais deram bons resultados", afirma Artur Couto, diretor de Bio-Manguinhos. Em até três anos, devem começar os testes em humanos.

O segunda maior produtor é o laboratório francês Sanofi-Aventis, com cerca de 10 milhões de doses anuais. A empresa também realiza pesquisas na área.

Nos últimos anos, cada dose do produto custou de US$ 1 a US$ 3 para a Organização Pan-Americana de Saúde. Atualmente, só quatro laboratórios são capazes de produzir a vacina. Além dos já citados, há também um instituto russo e outro no Senegal.

"Há uma demanda grande na África", aponta Couto. "A Nigéria quer imunizar 100 milhões de pessoas, mas não há oferta."

Ameaça. Só na última década ficou clara a associação do vírus atenuado da vacina a casos muito raros, mas graves, de encefalite e da forma vacinal da doença.

Em um artigo científico de 2004, Struchiner e outros autores sublinham a conveniência de vacinar pessoas em áreas endêmicas, mas questionam a oportunidade de "administrar preventivamente a vacina para toda a população". Se o risco do indivíduo contrair febre amarela é menor do que o de uma reação adversa grave causada pela vacina, não há por que utilizá-la. "Mas as conclusões seriam outras se o perfil da vacina fosse mais seguro", pondera Struchiner.

Há pelo menos uma boa razão para tornar toda a população imune à febre amarela. A doença já foi o principal problema de saúde pública no País, no fim do século 19 e no início do 20. Na década de 30, iniciou-se uma campanha nacional de erradicação do principal vetor urbano da doença - o Aedes aegypti. Em 1958, o Brasil foi declarado livre do mosquito. Dez anos depois, o inseto ressurgiu no Norte e, hoje, está presente em todo o País.

Atualmente, o Aedes não transmite a febre amarela. Ninguém sabe o porquê. Nas últimas décadas, todos os casos da doença são silvestres: estão associados a outros gêneros de mosquitos - Haemagogus e Sabethes - presentes apenas nas florestas.

Supõe-se que o vírus da dengue, também transmitido pelo Aedes, monopolizou o vetor. Mesmo assim, a sombra de uma epidemia urbana de febre amarela ainda incomoda especialistas que esperam uma vacina mais segura para toda a população.

PARA ENTENDER

A febre amarela é uma doença infecciosa febril aguda que dura, no máximo, dez dias. Contudo, pode matar. A transmissão ocorre pela picada de mosquitos infectados. Não há transmissão direta de humano para humano. O tipo silvestre da febre amarela é transmitido pela fêmea dos mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes. O tipo urbano é transmitido pelo Aedes aegypti, o mesmo vetor da dengue. A vacina é gratuita e está disponível nos postos de saúde. É administrada em dose única a partir dos 9 meses e vale por 10 anos. Não precisa ser tomada por quem não vai viajar ou não mora em áreas de risco. Os principais sintomas da doença são febre, dor de cabeça e no corpo, náuseas, icterícia e hemorragias. O tratamento apenas controla os sintomas da doença.

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