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sábado, 25 de junho de 2011

Mídias sociais modernizam a caça às doenças

Numa fria tarde de fevereiro em Los Angeles, participantes de uma conferência foram juntos a uma festa, beberam e dançaram. Dois dias depois, Nico Zeifang, empresário de 28 anos da Alemanha, acordou com dores no peito, calafrios e febre alta.
Quatro colegas compartilhavam os sintomas, como ele logo ficou sabendo. Como qualquer tecnólogo de respeito, ele entrou no Facebook e postou uma atualização de status. “Gripe do Domain”, dizia. “Quem mais pegou a doença?”
Em algumas horas, participantes do mundo todo se adicionaram à lista do Facebook de Zeiganf. Em uma semana, o número chegava a 80. Muitos deles "ficaram amigos" do empresário para obter informações e comparar notas sobre suas febres e tosses com catarro. Ao que parecia, quase todos tinham uma teoria sobre a fonte da infecção. Muitos suspeitavam que fosse a névoa artificial no interior da tenda da festa.
Autoridades do distrito de Los Angeles – além do Centro Federal de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, da sigla em inglês) começaram a investigar o caso alguns dias depois. Na ocasião, vítimas no mundo todo já chegavam a seu próprio diagnóstico – legionelose – e postavam suas informações na Wikipedia sobre a epidemia.
O poder da rede
As mídias sociais – Facebook, Google, Twitter, serviços de localização como Foursquare e mais – estão mudando a forma como epidemiologistas descobrem e rastreiam a disseminação de doenças. Antigamente, esses guardiões da saúde pública surgiam na cena de uma epidemia armados com kits de diagnóstico e um código de silêncio.
Autoridades passavam semanas entrevistando vítimas em particular, reunindo resultados de testes e dados, raramente reconhecendo em público que havia qualquer investigação. Os resultados podiam ser escondidos por semanas ou até meses.
Agora, a tecnologia está democratizando o processo de caça às doenças ao conectar pessoas em canais efetivamente fora do controle governamental. Embora o bate-papo online possa ser improdutivo e muitas vezes perigoso – espalhando medo e informações errôneas sobre causas e curas - , um número crescente de epidemiologistas vê a mídia social como uma vantagem. As caças futuras por elementos patogênicos pode depender tanto do Twitter quanto de exames de sangue e históricos pessoais.
A funcionária do CDC designada para o caso de Los Angeles não apareceu na porta de Zeifang com um saco plástico preto. Em vez disso, ela entrou em sua página do Facebook, leu os sintomas de todos, recomendou certos exames diagnósticos e encaminhou às vítimas o questionário online da agência. O CDC não discute o caso de Los Angeles ou o que pode ter causado a epidemia – cuja origem ainda é desconhecida - , mas funcionários admitem a necessidade de modernizar.
“Não podemos atrasar o relógio”, disse o Taha Kass-Hout, vice-diretor de ciência da informação no CDC. “Dado que a próxima SARS (epidemia) provavelmente poderá viajar numa questão de horas de um continente para outro, faz perfeito sentido adaptar a velocidade e flexibilidade das redes sociais para a vigilância de doenças”.
Investigação na web
John Brownstein, professor assistente de pediatria na Harvard Medical School, é um líder entre os chamados 'epidemiologistas computacionais’, que usam fontes incomuns de dados para ajudar na prevenção de epidemias. “Examinar as comunicações das pessoas sobre eventos de saúde pode lhe dizer muita coisa”, afirmou Brownstein.
“Onde quer que as pessoas estejam tendo discussões, seja no Facebook, Twitter, salas de bate-papo ou blogs, você pode processar essa informação usando ferramentas modernas e extrair elementos essenciais”.
Em 2006, frustrados pela dificuldade de obter dados em fontes governamentais, Brownstein e Clark Freifeld, um desenvolvedor de software, criaram o HealthMap, site que tenta identificar epidemias globais em tempo real.
O HealthMap vasculha a web por relatos de doenças em artigos da mídia local, testemunhos pessoais, blogs, Twitter e relatórios oficiais do CDC e da Organização Mundial da Saúde, e os processa como pequenos alfinetes vermelhos num mapa.
Com um aplicativo móvel relacionado, chamado Outbreaks Near Me, os usuários usam a localização por GPS para evitar perigos infecciosos. Eles também podem relatar novos riscos a partir de seus smartphones ou celulares. Se um relato amador é comprovado pela equipe de Brownstein, será mostrado no mapa do site como um ponto colorido.
Mais de 100 mil pessoas fizeram o download do aplicativo móvel. E mesmo reconhecendo o potencial para alarmes falsos, Brownstein descreveu este experimento em epidemiologia de multidões como promissor. Os relatos errôneos enviados por amadores foram surpreendentemente poucos. “Conduzimos muitas investigações sobre os dados, e os relatos positivos superam demais os negativos”, explicou ele.
Nos últimos anos, cientistas conseguiram identificar picos regionais de gripe uma semana antes do CDC, apenas peneirando informações de buscas e do Twitter para termos relacionados à doença. Agora, Bronwstein está colaborando com o CDC e o Google para desenvolver métodos de rastreamento online da dengue. O primeiro, chamado Google Dengue Trends, começou em maio.
Desconectados
Céticos argumentam que alguns dos novos métodos oferecem a ilusão de que o acompanhamento das doenças seria mais eficiente.
Usar os dados do CDC sobre a gripe da semana passada para prever o número de casos desta semana é tão eficiente quanto examinar milhões de termos de buscas no Google, afirmou Duncan Watts, autor de 'Everything Is Obvious Once You Know the Answer’ (“Tudo é óbvio quando você conheça a resposta”, em tradução livre). Além disso, o uso de mídias sociais é maior em cidades grandes e entre usuários jovens, o que pode comprometer os dados.
“Nem todos usam mídias sociais, então qual é sua representatividade?”, disse Ruth Lynfield, diretora médica do Departamento de Saúde de Minnesota e epidemiologista do Estado. Philip Polgreen, autor de um recente estudo sobre o uso do Twitter para acompanhar a atividade da gripe, concorda que a utilidade das mídias sociais para prever gripe é, no mínimo, modesta.
No rastro virtual da sífilis
Polgreen, diretor da rede de infecções da Infectious Disease Society of America, diz que o fluxo de novas informações pode servir como um importante adendo à vigilância tradicional, especialmente no caso de doenças novas – ou em instâncias com poucos dados históricos.
Alguns anos atrás, Polgreen atendeu um paciente que havia contraído sífilis após um contato sexual anônimo combinado pelo site Craigslist. A sífilis, que teve um ressurgimento na década passada, é especialmente problemática do ponto de vista da saúde pública. Muitos casos da doença – a maioria, em algumas comunidades – são vinculados a encontros anônimos pela internet. Um plano nacional para eliminar a doença ainda não gerou resultados satisfatórios.
Polgreen e colaboradores em seu grupo de epidemiologia computacional, na Universidade de Iowa, começaram a coletar os anúncios anônimos para tentar aprender sobre padrões de comportamento sexual em diferentes regiões.
Com mais de 131 milhões de mensagens em seu banco de dados até agora, o grupo identificou termos, como 'no pelo’ (gíria para sexo sem preservativo), cujo uso online indica regiões com índices mais altos de sífilis. Isso não é tão eficiente quanto ter os nomes e telefones das pessoas infectadas, disse Polgreen, mas a ferramenta oferece às autoridades da saúde um melhor entendimento dos comportamentos sexuais por regiões, além de dicas sobre como direcionar campanhas de saúde pública.
“A forma como essa informação se move é muito similar ao movimento da própria doença”, afirmou o Dr. David Fisman, epidemiologista da Universidade de Toronto. “Muitas vezes, não entendemos como as pessoas se movem ou interagem”.
http://saude.ig.com.br/minhasaude/midias+sociais+modernizam+a+caca+as+doencas/n1597042971192.html

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