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quinta-feira, 30 de junho de 2011

Portugueses com doença incurável receiam ser "fardo para a família"

A maioria dos portugueses com doença incurável receia ser "fardo para a família", o que implicará "repensar a situação do Estado Social", defende um investigador de Coimbra que participou num estudo internacional nesta área.

Esta investigação de âmbito europeu, em que participou a Universidade de Coimbra (UC), revela que, além da dor, “um dos maiores receios dos portugueses” com doença incurável ou em fase terminal “é constituírem um fardo para a família”.

“A dor é o seu maior receio, mas estas pessoas também não querem ser um fardo para outras”, declarou hoje à agência Lusa o investigador Pedro Ferreira, docente da Faculdade de Economia da UC e coordenador da equipa portuguesa envolvida no estudo.

Na sua opinião, os resultados evidenciam que “é necessário repensar a situação do Estado Social” em Portugal, “em particular os cuidados de final de vida”.

“Muitas pessoas ignoram o que são os cuidados paliativos ou como beneficiar deles. Portugal ainda está na infância dos cuidados continuados integrados, embora, apesar disso, esteja a caminhar bem”, segundo Pedro Ferreira.

Liderado pelo King’s College, através da investigadora portuguesa Bárbara Gomes, o projeto “PRISMA” contou com a participação do Centro de Estudos e Investigação em Saúde da Universidade de Coimbra.

Portugal foi ainda um dos países com menor percentagem de pessoas que indicaram preferir morrer em casa (51 por cento).

No entanto, esta média é geralmente superior na União Europeia (UE). A Holanda lidera neste ponto, com mais de 80 por cento dos inquiridos a afirmarem que preferem morrer na sua residência.

“De uma forma geral, dois terços dos cidadãos europeus preferem que os últimos momentos da sua vida sejam em casa”, afirmou Pedro Ferreira.

Financiado pela Comissão Europeia, com o objetivo de “obter regras de boas práticas e harmonizar a investigação relacionada com os cuidados de fim de vida para doentes oncológicos na Europa”, o “PRISMA” foi desenvolvido em oito países da UE: Portugal, Reino Unido, Alemanha, Bélgica, Holanda, Espanha e Itália e replicado parcialmente no Uganda (África).

“O estudo deverá influenciar e alterar as decisões políticas para a melhoria da qualidade de vida das pessoas com doença incurável, com esperança de vida inferior a um ano, e os doentes terminais”, disse.

Para ajudar à concretização deste objetivo, vai ser editado um guia para profissionais da saúde, “com indicações sobre avaliação de sintomas e as melhores práticas para a melhoria da qualidade de vida destes doentes”, refere uma nota da assessoria de imprensa da Reitoria da UC.

O guia foi produzido por um grupo de trabalho liderado pelo Centro de Estudos e Investigação em Saúde da Universidade de Coimbra.

No âmbito do “PRISMA”, foram realizados inquéritos telefónicos a 9.344 pessoas, 1.286 das quais em Portugal, sendo que apenas 10 por cento tinham doenças graves.

Entre as questões colocadas, estavam as preferências em situações de opção entre qualidade ou prolongamento da vida, ou de responsabilidade da tomada de decisões no caso de o doente se encontrar inconsciente.

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