Aplicativos, carreira, concursos, downloads, enfermagem, farmácia hospitalar, farmácia pública, história, humor, legislação, logística, medicina, novos medicamentos, novas tecnologias na área da saúde e muito mais!



terça-feira, 7 de junho de 2011

Vacina contra febre amarela é eficaz com dose 50 vezes menor que a atual

Fabio Motta-29/4/2011
Estudo. O pesquisador Reinaldo de Menezes Martins, consultor sênior de Bio-Manguinhos
 
 
Pesquisadores de Bio-Manguinhos/Fiocruz descobrem que resposta imunológica é semelhante nos dez meses seguintes à aplicação do imunizante; estudo também indica que as reações adversas à vacina são menores quando a pessoa já teve dengue

Uma pesquisa com 900 militares revelou que a vacina contra febre amarela é eficaz mesmo se a dose for 50 vezes menor do que a injetada atualmente na população. O maior estudo já realizado para avaliar a imunização com doses mais baixas foi realizado por pesquisadores do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz), em parceria com o Instituto de Biologia do Exército.

"Esse trabalho é importante porque, se houver uma emergência de saúde pública, temos elementos que nos permitem aplicar a vacina diluída dessa forma em adultos", diz Reinaldo de Menezes Martins, consultor sênior de Bio-Manguinhos e principal pesquisador do trabalho. O estudo foi apresentado durante o Simpósio Internacional de Imunobiológicos, organizado em maio pelo Bio-Manguinhos.

Na próxima fase da pesquisa serão imunizadas crianças do Pará para saber se a eficácia se mantém também nesse público, explica o pesquisador.

Para o trabalho, foram recrutados 900 militares que nunca haviam tido contato com o vírus - não tinham sido vacinados nem contraído a doença. Desses, 895 aderiram ao protocolo e voltaram a ter o sangue testado 5 e 30 dias após terem recebido a dose. Um total de 146 teve sorologia positiva para o vírus da febre amarela e foi dispensado. Provavelmente haviam sido vacinados e não sabiam. Participaram da pesquisa e foram imunizados 749 militares.

A pesquisa mostrou que a eficácia da dose diluída 50 vezes é de 96,9% - praticamente a mesma da que é aplicada hoje (97,7%). Essa resposta se manteve nos 10 meses seguintes - a testagem será repetida nos próximos dez anos, para saber se a vacina fracionada tem a mesma garantia de uma década da dose completa. A redução da quantidade de partículas de vírus reduziu a dor no local da aplicação.

Efeitos adversos. O grande desafio dos especialistas é obter um produto que consiga reduzir os casos de eventos adversos graves da vacina da febre amarela - a cada 300 mil pessoas imunizadas, 1 morre por efeito da vacina.

Martins explica que não houve mudança do comportamento do vírus ao longo dos anos. "Até 1999, não se sabia que os eventos adversos eram tão graves, porque aconteciam em regiões mais remotas do País e as pessoas atribuíam os falecimentos à própria febre amarela ou a outras causas", conta. Com o sequenciamento genético, passou a ser possível identificar se a morte havia sido provocada por vírus vacinal ou pelo vírus selvagem.

"Deve ficar muito claro que a vacina é importantíssima. Metade das pessoas que contraem febre amarela morre. Os eventos adversos ocorrem em escala muito menor", alerta Martins.

Proteção extra. O estudo não permitiu aos pesquisadores avaliar se a menor quantidade de partículas de vírus na vacina reduz o risco de efeitos adversos - seria preciso ampliar muito o número de pessoas estudadas. Mas revelou uma curiosidade interessante.

Já se sabia que aqueles que sofrem as piores reações são os que têm maior presença do vírus no sangue após a vacinação, a chamada viremia. A pesquisa mostrou que os militares com sorologia negativa para dengue e febre amarela, ou seja, que nunca haviam contraído nenhuma das duas doenças, tiveram viremia de 18,5%. Entre aqueles que foram contaminados pelo vírus da dengue, a viremia foi de 2,1%.

"É como se a dengue protegesse contra a febre amarela, atenuando a doença de tal maneira que o paciente não tem viremia. Quem teve dengue e recebeu a vacina possivelmente terá menos efeito adverso à vacina", afirma Martins.

O pesquisador lembra que o transmissor das duas doenças é o mesmo - o mosquito Aedes aegypti. "Todos sempre se perguntam porque a Ásia tem muita dengue e não tem febre amarela. O mesmo ocorre no Rio. Esse resultado que encontramos pode nos levar a essa resposta."

Nenhum comentário:

Postar um comentário