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sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Vibração na direção veicular pode acarretar problemas de saúde

Revisando pesquisas sobre este assunto, elaboradas por engenheiros de segurança e médicos do trabalho, em centros como Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo, conclui-se que a vibração no transporte público chega a ser 70% maior do que deveria. Usuários e principalmente operadores do transporte são submetidos ao risco durante o trajeto e jornada de trabalho, sujeitos a sinais e sintomas, podendo apresentar doenças aguda ou crônica que vão caracterizar doenças ocupacionais.

Foram pesquisadas empresas de ônibus, vários modelos de coletivos e variados trajetos, com predomínio nas áreas urbanas. Sem exceção, todos excederam o valor limite da velocidade permitida para atividade de condução de ônibus quando submetidos à jornada de oito horas, como prevê a Norma ISO 2.631. Constata-se dessa forma a irregularidade e insalubridade atuando sobre os profissionais do volante.

Hoje, o Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS), por meio do INSS, usando as Instruções Normativas 99 e 100 de 2004, exige das empresas laudos ambientais das condições de trabalho nos locais onde ocorre exposição a vibrações elevadas.

O empresário deve se preocupar com o que ocorre no local de trabalho do seu funcionário, no desenvolvimento da atividade, nas condições adversas capazes de produzirem acidentes ou doença ocupacional, tomando providências para prevenção.

Os movimentos vibratórios produzidos por motores, desajustes de funilaria, suspensão, rodas sobre superfícies irregulares, paralelepípedos, asfalto, buracos e outros, são responsáveis por uma gama de queixas relacionadas ao fim do dia trabalhado por todos os motoristas. Queixam-se de dores musculares, articulares, fadiga, insônia, indisposições digestivas e uma série de outros sinais e sintomas que quase sempre o profissional de saúde, por serem queixas comuns de outras patologias, não correlaciona à atividade desenvolvida.

Situações do piso submetem esses trabalhadores à sobrecarga de múltiplas partes do seu organismo. Podem provocar sinais e sintomas, doenças, desgaste neuromuscular, osteoarticular, circulatório e até alterações hormonais e do metabolismo.

Precisamos entender que a vibração segmentar e de corpo inteiro, somada à busca permanente do equilíbrio nesta atividade, exigem reações do organismo caracterizadas por reflexos rápidos e contraturas musculares permanentes. Só manter-se em posição já exige esforço muscular, que somado à vibração produzirão contraturas de fibras musculares frequentes que levarão o indivíduo em curto prazo a sentir-se como se estivesse trabalhando no campo. Tais fibras são levadas ao esgotamento, que conduz o indivíduo à fadiga intensa. Este fato somado aos movimentos repetitivos desenvolvidos durante atividade irá acelerar os processos degenerativos neuromusculares e osteomuscular. As pequenas e grandes articulações poderão ser comprometidas assim como toda a coluna vertebral. A susceptibilidade é individual. Alguns, em curto prazo, evoluem para processos degenerativos irreversíveis.

Na atividade sobre duas rodas (motocicletas), podemos caracterizá-la como sendo vibração de corpo inteiro somada à vibração localizada nos membros superiores. Pode o operador apresentar comprometimentos degenerativos que evoluem para Síndrome de Reynaud e mesmo desencadeamento da Síndrome do Túnel do Carpo, tendinopatias (alterações dos tendões), etc. Somam-se à vibração os movimentos repetitivos executados e também a busca permanente ao equilíbrio que constituirão conjunto propício ao desencadeamento de tais doenças. Além da fadiga, surgem dores musculares difusas ou localizadas e que muitas vezes não atentamos para sua origem.

Para que uma fibra muscular se contraia, é necessária a presença de glicose, oxigênio e outros elementos importantes como sódio, potássio, cálcio, fósforo e enzimas. Sob efeito da vibração, dos movimentos repetitivos, da busca permanente à postura ergonômica, daí falarmos na alteração do metabolismo caracterizada por aumento da queima, isto é, aumento do catabolismo. Para compensar tal fato, temos de fazer a reposição.

Sobre o sistema circulatório, a vibração produz verdadeira expressão, massagem sobre veias e artérias e é capaz de destacar e deslocar trombos (coágulos de sangue), ateromas (placas de gordura), levando-os através da corrente sanguínea a outras áreas do corpo onde produzirão entupimento e doença circulatória aguda e grave.

De acordo com a Norma ISO 2.631, o valor limite de aceleração que corresponde à unidade de medida da vibração é de 0,63m/s² (somatório vetorial de aceleração) para uma jornada de oito horas. Sabemos que o trabalho desenvolvido na direção veicular submete o motorista à vibração bem acima do que está previsto na ISO e que ainda não temos norma regulamentadora para essa atividade. Acima daquilo é excesso. Passando desse limite, temos de reduzir o tempo de exposição à condição insalubre do trabalho. Esse é outro motivo para sugerirmos jornada de trabalho não superior a seis horas.

Operadores do transporte portadores de patologias crônicas e progressivas terão precipitação e aceleração de seus processos degenerativos. É o caso de um portador de varizes de membros inferiores que terá exacerbação das queixas localizadas e que poderá evoluir para trombose venosa profunda (TVP), liberação de um trombo (coágulo) e consequente acidente vascular. Um portador de insuficiência cardíaca com fibrilação atrial que sob ação da vibração pode precipitar um tromboembolismo, é outro exemplo. Como outro trabalhador que sob ação da vibração apresenta desmineralização óssea (osteoporose) e que em seguida apresenta um foco de fratura.

Torna-se difícil a correlação entre causa e efeito, não temos dúvida, mas temos de buscá-la.

A avaliação clínica nos exames admissional e periódico é essencial para detectar-se patologia primária não manifesta e evolutiva, que teria, com a vibração, exacerbação e precipitação dos respectivos quadros.

O que fazer para reduzir o risco?
Não temos como fazer desaparecer todas as vibrações, mas podemos atuar de maneira preventiva, reduzindo-a – e muito. Sugerimos às montadoras e aos serviços de manutenção em geral melhora dos efeitos dinâmicos, das condições mecânicas, principalmente no que concerne à suspensão, folgas, contatos, atrito, emborrachamento de vidrarias e funilaria. Os órgãos governamentais devem zelar pela manutenção das vias públicas, evitando os desnivelamentos, buracos, paralelepípedos, entre outros.

Manter postura correta sobre a máquina, obedecendo à norma ergonômica, é fator essencial. Reposição de vitaminas e sais minerais, por meio de boa alimentação, bem como ingestão de boa quantidade de líquidos, supre a necessidade do consumo. Exercícios de alongamento antes, durante e após o trabalho melhoram a condição osteoneuromuscular, permitindo melhor resistência ao risco físico apresentado.

A redução do tempo de exposição será fator essencial para redução dos sinais e sintomas, bem como das doenças ocupacionais.

Conclusão
A vibração é um dos fatores concorrentes para que o trabalho na função de motorista, motociclista, tratorista, empilhador, etc., seja considerado “penoso”. É um fator de risco físico presente durante toda a jornada de trabalho. É desgastante, gera problemas de saúde. Em médio e longo prazo, pode trazer consequências irreversíveis, principalmente pelas alterações degenerativas. Em curto prazo, gera dores musculares difusas, dores osteoarticulares, astenia, torpor, sonolência, adinamia, inibição de reflexos, dificuldade na concentração e quadro circulatório agudo. Pode ser causa de acidente vascular. O difícil é correlacionar causa e efeito, daí muitos casos de exposição ao risco passarem despercebidos.

O alongamento pré, trans e pós-laboral é medida preventiva. O combate a tal fator deve ser observado pela montadora, pelo empresário, pelo motorista, motociclista, empilhador, tratorista e todos que direta ou indiretamente estão envolvidos com esse tipo de atividade, inclusive pelos órgãos públicos responsáveis pela manutenção das vias.

A redução do tempo de exposição é o principal elemento quando não temos como erradicar o risco.
Manter-se com bom condicionamento físico é essencial.

Fica dessa maneira evidenciada a preocupação da área de engenharia de segurança e de medicina de tráfego no combate permanente a mais este risco ocupacional.
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Por Dirceu Rodrigues Alves Júnior
Membro da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego

Fonte O que eu tenho?

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