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domingo, 16 de fevereiro de 2014

Suco de laranja: aliado ou vilão?

Estudo da Unesp de Araraquara (SP) feito com voluntários mostra que a ingestão da bebida aciona marcadores de saciedade, o que poderia ajudar no controle do peso. Porém, especialista acredita que líquido estimule a fome
 
Tem pipocado em manchetes pela internet e em conversas que o suco de laranja emagrece. Essa conclusão precipitada tem origem na recente divulgação de estudo feito na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Araraquara (SP). Na verdade, a ingestão da bebida não faz ninguém perder peso: o que ela provoca, de acordo com o estudo, é a liberação de hormônios e substâncias responsáveis pela sensação de saciedade e isso pode ajudar a reduzir e controlar o peso.

Intitulado "Saciedade e consumo alimentar após a ingestão de suco de laranja por indivíduos normais e com sobrepeso", o estudo foi realizado entre 2012 e o ano passado pela professora Thais Borges César, auxiliada pelas alunas Aline Cardoso de Paiva e Ariane Voltolini e Paião. Com idades entre 20 e 40 anos, 20 homens e 20 mulheres compareceram ao laboratório em três ocasiões para ingerir suco de laranja natural feito na hora, suco da fruta pasteurizado (integral e sem açúcar, pasteurizado no laboratório da universidade, similar a um produto industrializado) e, por fim, uma solução com níveis correspondentes de água e açúcar, uma espécie de bebida-controle.

Depois do consumo de cada uma dessas bebidas, os voluntários tiveram amostras de sangue e urina coletadas para análise e passaram por avaliação subjetiva da saciedade e do consumo alimentar por 24 horas – foram utilizados como marcadores de saciedade a leptina, adiponectina, grelina, glicose e insulina, substâncias e hormônios presentes no corpo humano (não no suco) e estimulados pelo consumo da bebida. Após os exames de urina e sangue, foram coletados depoimentos dos voluntários (sobre a percepção deles de saciedade após o consumo do suco) e, a partir daí, Thaís e sua equipe analisaram os resultados dos testes.
 
Elas constataram que houve alterações de marcadores de saciedade (leptina, adiponectina, grelina, glicose e insulina) em função da ingestão do suco de laranja. A professora esclarece que a diferença entre o suco natural e o suco pasteurizado nos exames de sangue e de urina foi pouco considerável. A solução controle, de água e açúcar, serviu para comprovar, segundo ela, que o suco de laranja, como pensam muitas pessoas, não é apenas fonte de açúcar (frutose), mas também fonte de outras substâncias benéficas ao organismo.

"Quis mostrar que o benefício não era só a frutose. A bebida tem componentes que agem positivamente no organismo, como a vitamina C, o potássio, os carotenoides e o ácido fólico. Concluímos, com o resultado dos exames de sangue e urina, e os depoimentos, que as pessoas se sentiam saciadas após o consumo do suco e que seu consumo pode ajudar no controle/redução de peso, já que provoca essa sensação. Como ele não tem muitas calorias, pode ajudar numa dieta, já que, ao tomar o suco, as pessoas acabam não comendo um salgado ou chocolate, por exemplo", analisa Thaís. Um copo de suco de laranja de 250ml tem 120 calorias, índice baixo, segundo a professora.

Reação
Mas os benefícios da bebida não param por aí: ela também tem flavonoides, entre eles a hesperidina, muito benéfica à saúde, explica a professora: "Ela tem propriedades anti-inflamatórias, atua contra o estresse oxidativo, ajuda na redução do colesterol e melhora a sensibilidade à insulina. Não se pode avaliar um alimento só pelo índice glicêmico, mas também pela quantidade de insulina que faz o corpo liberar", analisa. Thais estuda os efeitos do suco de laranja no corpo há pela menos uma década, tendo analisado os resultados em centenas de pessoas, incluindo um grupo de 120 indivíduos que consumiu a bebida durante um ano.

Esse último estudo é uma espécie de resposta da professora da Unesp à pesquisa publicada na revista médica inglesa British Medical Journal, na qual a tendência a ter diabetes tipo 2 foi associada ao consumo de sucos de frutas (incluindo a laranja). Também serviu de estímulo o fato de o câmpus da universidade ficar na região responsável por grande parte da produção nacional de suco de laranja – o financiamento do estudo coordenado pela professora Thaís foi feito pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). "Há uma campanha sem base científica contra essa bebida e falar que o suco engorda é bobagem. Ele não traz ganho de peso mesmo se tomado regularmente", garante a pesquisadora.

Ainda que diversas fontes considerem o suco de laranja um alimento de alto índice glicêmico (IG), a professora Thais César, que é formada em ciências biológicas pela Universidade Federal de São Carlos e tem doutorado em ciências dos alimentos pela Universidade de São Paulo, adota como referência para seus estudos a tabela publicada pela Associação Americana de Diabetes (ADA, na sigla em inglês), nos Estados Unidos. Conforme a lista publicada por essa última instituição, o suco de laranja (não adoçado e em porção de 250ml) tem índice glicêmico igual a 50 (numa escala até 100), tendo sido considerado baixo pela ADA. A tabela usada pela entidade norte-americana define que alimentos de baixo índice glicêmico são aqueles com valor abaixo de 55; os de médio IG, entre 56-69; e os de alto IG, igual ou maior que 70.

Há ainda muita controvérsia no meio científico sobre planos alimentares que sejam elaborados por nutricionistas usando como parâmetro o índice glicêmico dos alimentos somente. Pesquisas da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês) de 2003 e revisões metodológicas feitas em 2005 e 2007 por cientistas indicam (não comprovam, ainda) que dietas baseadas em consumo de alimentos de índice glicêmico possivelmente previnem o risco de ganho de peso e obesidade; possivelmente diminuem o risco de diabetes. Os estudos não comprovaram a relação do consumo de baixo índice glicêmico na prevenção de doenças cardiovasculares e de câncer.

Fique por dentro
Veja abaixo as definições, segundo a Sociedade Brasileira e Diabetes, para índice glicêmico e carga glicêmica

Índice Glicêmico

O que é?

O índice glicêmico (IG) é um método proposto pelo médico David Jenkins, pesquisador da Universidade de Toronto (Canadá), em 1981. Ele representa a qualidade de uma quantidade fixa de carboidrato disponível em determinado alimento, em relação a um alimento-controle, que normalmente é o pão branco ou a glicose. A partir daí, são classificados com base em seu potencial em aumentar a glicose sanguínea. Por meio da análise da curva glicêmica produzida por 50g de carboidrato (disponível) de um alimento teste em relação a curva de 50g de carboidrato do alimento padrão (glicose ou pão branco), tem-se o IG. Atualmente, utiliza-se o pão branco por ter resposta fisiológica melhor que a da glicose.

Como identificar o IG dos alimentos?
O índice foi proposto para auxiliar na seleção de alimentos. Quando o alimento-controle é o pão, os alimentos analisados que apresentam IG 95 são considerados de alto IG. Caso o alimento padrão seja a glicose, considera-se alto IG maior que 70, médio IG entre 56 e 69 e baixo IG menor que 55. A recomendação para o uso do IG baseia-se, principalmente, na substituição de alimentos de alto por baixo IG ao longo do dia.

Onde encontrar informações sobre o IG dos alimentos?
A primeira tabela divulgando valores de IG dos alimentos foi publicada em 1981 e continha 62 alimentos. Desde então o número de alimentos de todo o mundo vem sendo amplamente analisado por pesquisadores do Canadá, Austrália, Nova Zelândia. No Brasil, o IG de alguns alimentos como o abacaxi, morango, banana, feijão, arroz e alguns alimentos industrializados vem sendo analisado na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP), por uma grande equipe coordenada pela professora Elizabete Wenzel de Menezes.

CorreioWeb

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