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quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Especialistas alertam: Propaganda de remédios é alienante e perigosa à saúde

remédiosPerigosa e alienante, a publicidade de medicamentos, na análise de especialistas

Por Luiza Medeiros, no Blog do CEE-Fiocruz

Exposição a medicamentos sem eficácia comprovada, risco de submissão a tratamentos inadequados, suscetibilidade a efeitos colaterais e ao agravamento de quadros clínicos são possibilidades criadas pela preponderância do viés publicitário e mercadológico no cuidado com a saúde.

Conforme aponta o médico e pesquisador da Ensp/Fiocruz, Jorge Bermudez, trata-se de um mercado em ascensão.

“No contexto das restrições econômicas que grassam não apenas no Brasil, mas em âmbito mundial, o faturamento do mercado varejista continua crescendo, mostrando ser uma das indústrias mais poderosas do mundo, impondo seus interesses e seus produtos. Entretanto, precisa lançar mão de estratégias nada ortodoxas para assegurar a fidelidade a suas marcas e assim aumentar o faturamento e o domínio de fatias de mercado”, afirma Bermudez, no artigo Indústria farmacêutica: marketing desenfreado e mercado em ascensão, produzido para o blog do CEE-Fiocruz .

No artigo, Bermudez apresenta dados do IMS Health que mostram que de décimo maior mercado, em 2010, o Brasil passou a sétimo, em 2015, com expectativa de ser o quinto maior mercado farmacêutico em 2020.

Isso representa, hoje, um faturamento anual em torno de R$ 87 bilhões. Os medicamentos genéricos, que vêm aumentando seus aportes, representam cerca de 22% do mercado no país.

“São 65 mil farmácias, 50% delas agrupadas em grandes redes de varejo, que transformam o mercado farmacêutico varejista num grande campo de batalha de interesses e disputas”, observa Bermudez.

Segundo o médico sanitarista e ex-ministro da Saúde, José Gomes Temporão, entre os impactos da propaganda de medicamentos na saúde pública, estão a indução ao gasto das famílias com medicamentos sem eficácia comprovada, a exposição a efeitos adversos potencialmente graves e a construção de uma consciência em saúde “negativa e alienada na essência”.

“Trata-se de um componente, que se soma às demais estratégias de ampliação do consumo, como a propaganda ética (dirigida diretamente aos médicos) e outras, de um processo de medicalização que se afasta da dimensão ética, política e sanitária que deve reger a política nacional de assistência farmacêutica”, afirma Temporão.

De acordo com o jornalista e ex-editor do programa Radis/Ensp/Fiocruz, Álvaro Nascimento, autor do livro Ao persistirem os sintomas, o médico deverá ser consultado: isto é regulação?, a produção farmacêutica passou a ocupar o lugar de apenas um produto de consumo entre outros, e tornou-se objeto de monopólios mundiais e de concentração de renda.

“Isso ocorre via mecanismos inaceitáveis como, por exemplo, as famigeradas patentes farmacêuticas, que merecem um debate específico de viés civilizatório”, observa Álvaro no artigo Propaganda de medicamentos faz mal à saúde, também produzido para o blog do CEE-Fiocruz, que caracteriza a propaganda de medicamentos para grande público no Brasil como “abusiva e repleta de irregularidades”.

A produção de medicamentos, aponta, sofre o impacto e mexe com poderosos interesses de pelo menos três grandes setores com enorme poder econômico e político em nosso país: “a indústria farmacêutica, as poucas empresas monopolistas da área de comunicação e o comércio varejista”.

INCA lança cartilha sobre câncer de próstata

O câncer de próstata é o tipo de câncer mais frequente em homens no Brasil, depois do de pele não-melanoma. Somente este ano, são esperados 61.200 casos novos da doença

INCA LOGO

Para informar a população, em linguagem simples, sobre os aspectos gerais da doença, o INCA lança a cartilha Câncer de próstata: vamos falar sobre isso?

Criada a partir das respostas às principais dúvidas apresentadas por homens em grupos de pesquisa, a cartilha trata de aspectos gerais do câncer de próstata, possibilidades e limites para detecção precoce e fatores que podem aumentar o risco da doença.

Fonte: INCA

Sal em excesso aumenta em até 73% o risco de diabetes

Segundo um novo estudo, cada grama de sódio acima do limite diário está associado a um risco maior de desenvolver diabetes tipo 2 e auto-imune latente

O sal já é velho inimigo dos hipertensos. Agora, de acordo com um novo estudo apresentado durante congresso da Associação Europeia para Estudos do Diabetes, em Portugal, cada grama de sódio (ou cada 2,5 gramas de sal) consumido em excesso pode elevar em até 43% o risco do indivíduo desenvolver diabetes tipo 2 e em 73% o risco de diabetes autoimune latente em adultos (Lada), variação da doença em que anticorpos também afetam a produção de insulina. Segundo orientações da OMS, o consumo diário de sal deve ser limitado a cinco gramas de sal, equivalente a duas gramas de sódio.

Sal e diabetes
Segundo os pesquisadores, do Instituto Karolinska, de Estocolmo, na Suécia, além de levar à hipertensão, o sódio pode impactar a resistência insulínica. Estudos anteriores já haviam sugerido uma associação entre o consumo excessivo de sal e o diabetes tipo 2, mas nenhum observou como o consumo do sal também poderia afetar a forma autoimune da doença. “Dada a característica autoimune do diabetes latente, uma dieta com alto teor de sódio pode acelerar a ação dos anticorpos e desempenhar um papel na patogênese da doença”, disse Bahareh Rasouli, líder da equipe de pesquisa, ao Medical News Today.

Diabetes auto-imune latente
O diagnóstico do diabetes auto-imune latente é frequentemente confundido com o diabetes tipo 2 por causa aos sinais semelhantes. No entanto, nessa variação da doença, o próprio sistema imunológico ataca as células que produzem insulina, de forma muito parecida com o diabetes tipo 1. A diferença é que a latente tem uma progressão muito mais lenta, surgindo apenas na vida adulta. Muitas vezes, um paciente com diabetes latente recebe um tratamento para diabetes tipo 2 e não percebe melhora, pois os anticorpos continuam a atacar.

O estudo
No estudo, os cientistas analisaram dados de uma pesquisa de saúde feita na Suécia, que obteve informações sobre a dieta de indivíduos com as condições – 355 com diabetes autoimune latente e 1136 com diabetes tipo 2 – e compararam com dados de outras 1.379 pessoas saudáveis. Os participantes foram divididos em grupos conforme a quantidade diária de sal que consumiam, consumo baixo (até seis gramas), consumo médio (até 7,9 gramas) e consumo alto (mais de 7,9 gramas).

Consumo excessivo
Além do risco elevado a cada grama ingerida, aqueles que entraram na categoria de consumo alto mostraram 58% de chances de desenvolver o diabetes tipo 2 comparados aos que consumiam até seis gramas de sal por dia. Enquanto isso, as pessoas que já tinham uma predisposição genética para a doença e que também tiveram um alto consumo diário tiveram uma probabilidade quatro vezes maior de desenvolver o diabetes autoimune do que aqueles com o menor nível de ingestão.

Variáveis
Os pesquisadores também levaram em consideração variáveis como idade, sexo, IMC, frequência de atividade física, fumo e consumo alcoólico, que poderiam afetar os resultados gerais. Mesmo assim, o estudo teve uma limitação: por ter sido baseada em questionários, é possível que os participantes tenham ocultado detalhes importantes ou comedido as quantidades consumidas de fato. Dessa forma, a pesquisa pode ter indicado efeitos subestimados do consumo de sal em excesso. Segundo Bahareh, investigações mais aprofundadas sobre a interação entre dieta e fatores genéticos no contexto do diabetes pode ajudar descobrir novos meios de prevenir a doença.

Veja

Vício em opioides vira caso judicial nos EUA

Frascos de vários medicamentos a base de opioides numa farmácia em Ohio; Estado está processando empresas farmacêuticas por onda de mortes por overdose A pilha de corpos continua aumentando no necrotério na cidade americana de Dayton, no Estado de Ohio

“Nosso espaço refrigerado não para de ser expandido”, diz Kent Harshbarger, legista do condado de Montgomery. “Isso está diretamente ligado à epidemia de opioides. Não há dúvidas disso”. Duas vezes neste ano, as instalações a cargo de Harshbarger ficaram tão cheias que ele considerou alugar unidades de refrigeração em outros lugares. No ritmo atual, ele deverá realizar necrópsias em cerca de 1.800 vítimas de overdose em 30 condados do Estado de Ohio em 2017, mais do que o dobro do total no ano passado. Ao se formar como patologista forense em 2001, Harshbarger tinha sido treinado para lidar com acidentes em transportes de massa, desastres naturais e surtos pandêmicos.

“Mas não para algo desse tipo, não para uma epidemia de overdoses de drogas nessa dimensão”, diz. “Todas as outras coisas têm um ponto final, mas isso vai se prolongar por anos”. Para enfrentar a demanda, ele começou a fazer horas extras e contratou mais 12 funcionários, incluindo seis patologistas, o que o obrigou a buscar um aumento nas verbas municipais. O preço de enfrentar a onda de mortes por overdose é apenas uma linha numa lista cada vez mais longa de custos associados à epidemia de opiáceos nos EUA, que no mês passado foi declarada uma emergência nacional pelo presidente Donald Trump. Mais de 183 mil americanos morreram de overdose envolvendo um opioide receitado entre 1999 e 2015, e o número de mortes anuais quadruplicou no mesmo período, de acordo com os Centros para Controle e Prevenção de Doenças (CDC, em inglês) dos EUA.

A agência governamental estima que cerca de 2,6 milhões de pessoas no país estão hoje viciadas em drogas e medicamentos derivados do ópio, que é extraído da papoula. As estatísticas subestimam a verdadeira escala da epidemia, porque muitas vítimas morrem não devido a medicamentos receitados, mas por opioides ilegais, como a heroína, que elas tendem a usar depois de se viciarem em opioides legais, receitados como analgésicos. O CDC contabilizou 33 mil mortes no ano passado, que contribuem para transformar as overdoses de drogas na principal causa mortis entre pessoas com menos de 50 anos nos EUA. Dados do governo sugerem que o total do ano passado pode ser ainda maior.

Forças policiais dizem precisar de mais recursos para enfrentar a onda de overdoses e o crime relacionado às drogas; hospitais e centros de saúde estão estocando naloxona, um antídoto caro que pode custar até US$ 470 por injeção; e agências governamentais locais estão gastando mais com tratamento e centros reabilitação. Apenas Ohio diz ter gasto quase US$ 1 bilhão no combate à epidemia. Diante da perspectiva de elevar impostos para financiar os gastos extras, políticos locais decidiram tentar recuperar pelo menos parte do dinheiro daqueles aos quais culpam pelo início dessa crise: as companhias farmacêuticas que produziram e comercializaram as drogas e os atacadistas e farmácias que as distribuíram.

No ano passado, pelo menos 30 Estados, cidades e municípios iniciaram ações judiciais contra farmacêuticas e distribuidoras ou recrutaram formalmente advogados, num processo que tende a funcionar como um prelúdio para ações legais abrangentes, segundo uma análise do “Financial Times” baseada em documentos de tribunais e registros governamentais. Essa tentativa de responsabilizar as empresas tem sido comparada com os processos movidos pelos EUA contra a indústria do fumo, que resultou num acordo envolvendo o pagamento de US$ 200 bilhões em 1998. “[Isso] poderá ser tão grande quanto o [caso do] tabaco”, diz Jodi Avergun, advogada que atua como defensor em casos de crimes de colarinho branco no escritório de advocacia Cadwalader, Wickersham &Taft.

Ela acrescenta que as overdoses matam hoje mais que acidentes de carro e homicídios com armas de fogo somados. Richard Ausness, professor da Faculdade de Direito do Kentucky, prevê que todos os 50 Estados americanos iniciarão ações legais, juntamente com “milhares de entidades menores como condados e cidades”. Os custos legais para as empresas envolvidas serão “muito grandes.” Os escritórios de advocacia estão se oferecendo para trabalhar no modelo de “taxa de sucesso”, ou seja, eles serão remuneradas por uma grande fatia – geralmente cerca de um terço – de quaisquer acordos ou indenizações.

Se perderem os processos, não receberão nada. Joseph Ciaccio, advogado no escritório Napoli Shkolnik, diz que sua empresa está “se reunindo quase diariamente” com “autoridades de condado que pretendem ser reembolsadas pelo que gastaram e, assim, tirar o ônus dos ombros dos contribuintes. “Não encontramos um único lugar que não tenha sido afetado”, diz Ciaccio, cujo escritório representa cinco municípios que iniciaram ações judiciais. Alguns processos são contra fabricantes. Outros se concentram nas distribuidoras. Alguns atacam ambos.

Em sua maioria, os demandantes acusam os fabricantes de medicamentos de empregar táticas de venda agressivas para aumentar a emissão de receitas de opioides, minimizando a relevância dos riscos. Acusam ainda distribuidores e farmácias de terem feito pouco para identificar o grande número de pílulas que estavam sendo desviadas para traficantes no mercado negro. Entre os réus mais comumente citados estão fabricantes de medicamentos como a Purdue Pharmaceuticals, de capital fechado, Johnson & Johnson, Allergan, Mallinckrodt, Endo e Teva; distribuidores como a McKesson, AmerisourceBergen e Cardinal Health; e redes de farmácias como Walgreens e CVS. Essas empresas negaram as acusações ou então se recusaram a comentar, embora muitas tenham acrescentado que reconhecem a gravidade da crise e querem desempenhar um papel em sua solução.

O número de mortes por overdose envolvendo um opioide receitado quadruplicou entre 1999 e 2015 nos EUA Num processo movido em maio pelo Estado de Ohio, e que se tornou um modelo para a maior parte das ações legais subsequentes, o procurador-geral do Estado acusou os fabricantes de medicamentos de se valerem de “diversos canais para disseminar declarações falsas e enganosas” sobre quais pacientes eram candidatos apropriados para serem tratados com opioides.

Muitos especialistas em dor dizem que as drogas só devem ser usadas em pessoas com doenças terminais ou que sofrem de episódios agudos de dor, mas os fabricantes de medicamentos tentaram comercializar as pílulas para pacientes com condições crônicas, como dores nas costas ou no pescoço, alegam as ações judiciais. Ele cita a publicidade produzida pela Endo, que inclui imagens de pessoas que trabalham em “empregos fisicamente exigentes”, como empregados na construção civil e chefes de cozinha, insinuando que o medicamento Opana ER, da empresa, era adequado para pessoas com queixas contínuas de dor.

A ação judicial também alega que os fabricantes de produtos farmacêuticos gastaram grandes somas – quase US $ 170 milhões em 2014 – na remuneração de representantes de vendas para convencer médicos a usarem opioides em casos de dores crônicas, ao mesmo tempo em que pagavam honorários a um “grupo diversificado de especialistas aparentemente independentes” que promoviam as drogas em conferências e descartavam os riscos de dependência. Mesmo após o declínio no número de fumantes, o número de mortos devido ao fumo ainda é muito superior ao número de pessoas mortas pela epidemia de dependência de opioides. São cerca de 480 mil mortes por ano relacionadas ao fumo, segundo o CDC.

Porém muitos acreditam que o impacto financeiro da crise de opioides – dado que deverá influenciar o montante de possíveis indenizações ou acordos judiciais – acabará sendo muito maior. Se, por um lado, o custo do tabagismo foi em larga medida limitado às contas médicas, o vício em drogas está pressionando uma série de serviços públicos, do atendimento a crianças a prisões e policiamento. “A natureza do dano é diferente”, diz Ausness. “Ao contrair um câncer de pulmão, você não vive por muito tempo, mas um vício pode ser uma coisa que se mantém por 20 anos ou mais. Em alguns aspectos, é mais permanente”. Os advogados terão pouca dificuldade para comprovar que seus clientes estão gastando enormes somas de dinheiro para enfrentar a crise dos opioides, segundo a advogada Avergun.

“Os custos são astronômicos e estão ameaçando quebrar muitos municípios”, diz ela. Mas será muito mais difícil comprovar que as empresas farmacêuticas e os distribuidores são os culpados. Os advogados que aconselham as empresas dizem acreditar que os queixosos terão dificuldades de provar que as ações dos fabricantes de medicamentos – negligência ou outras – são a principal razão ou “causa imediata” da epidemia. “Há muitos elos na cadeia”, diz um advogado que trabalha para uma das farmacêuticas. “Claro, as empresas farmacêuticas criaram, desenvolveram e comercializaram as drogas – mas os órgãos reguladores as aprovaram, médicos as receitaram e os pacientes as tomaram. Para identificar uma causa imediata, você precisa explicar que nenhum dos outros elos contribui [para o vício].” Avergun concorda.

“Há um fosso causal gigantesco”, diz ela. Por essa razão, uma analogia melhor para o litígio envolvendo os opiaceos pode ser a tentativa, em grande parte malsucedida, de processar fabricantes de armas, segundo Ausness, porque há “vários elementos intervenientes entre o produtor e a vítima”. Além disso, muitas mortes não são causadas por overdose de comprimidos receitados, mas sim por heroína associada ao fentanil, um opioide sintético cem vezes mais potente do que a morfina. Apesar de cerca de quatro em cada cinco viciados em heroína dizerem que se viciaram em analgésicos, as drogas ilegais são uma das principais causas de mortes e de crimes, o que cria alguma distância entre as farmacêuticas e a epidemia de vício.

“Ao contrário dos fabricantes de cigarros, nossos produtos são medicamentos aprovados pela Agência Fiscalizadora de Alimentos e Medicamentos dos EUA (FDA), receitados por médicos e distribuídos por farmacêuticos, para uso por pacientes com dores”, diz um porta-voz da Purdue, acrescentando que a empresa nega “vigorosamente” as acusações, mas compartilha das “preocupações das autoridades públicas com a crise dos opioides”.

Na semana passada, a Purdue apresentou formalmente uma resposta ao processo iniciado por Ohio, argumentando que o caso deveria ser arquivado porque a decisão da FDA de aprovar as drogas e as advertências nas bulas implicam que a empresa não pode ser processada com base na legislação estadual. Se os jurados serão ou não convencidos de que os fabricantes de medicamentos são inteiramente culpados pode acabar sendo irrelevante, pois os advogados preveem que o resultado mais provável é uma solução extrajudicial.

“Seria negligente, de nossa parte se não explorássemos maneiras de acabar logo com isso”, diz um advogado que trabalha para um dos grupos farmacêuticos. “Ninguém de nosso lado está insistindo em ‘nada de acordos’”. O principal foco da discórdia é o montante de um acordo. Enquanto os Estados e municípios apontam para o custo incalculavelmente elevado da crise, os advogados das empresas consideram que o setor de opiaceos é pequeno comparada com o do fumo.

As vendas de cigarros nos EUA geraram US$ 94,4 bilhões no ano passado, de acordo com o Euromonitor, empresa especializada na compilação de dados estatísticos, ao passo que o mercado de opioides vendidos sob receita médica movimentou US$ 8,5 bilhões, segundo a Quintiles IMS. Também não há nenhuma certeza de que as empresas farmacêuticas seriam capazes de arcar com um acordo de valor próximo da ordem de grandeza dos montantes pagos pelos fabricantes de cigarros em 1998.

Tentativa de culpar as empresas tem sido comparada aos processos contra a indústria do fumo A J&J, a maior empresa citada no litígio, tem muito dinheiro, mas vendeu suas operações envolvidas com a produção de opioides em 2015 para a Depomed, ao passo que a Purdue não divulga seus resultados financeiros. As empresas de capital aberto que dominam o setor de opiáceos de marca – Endo, Depomed e Mallinckrodt – encerraram o ano passado com dívidas líquidas totais superiores a US$ 14 bilhões e exibem alguns dos mais altos níveis de endividamento no setor farmacêutico. Mesmo que as duas partes possam concordar com um número, os processos teriam de ser agregados numa reivindicação capaz de ser resolvida com um único acordo geral.

Além disso, os demandantes precisariam entrar em acordo sobre uma fórmula para determinar como o dinheiro seria dividido, com base no número de mortes por overdose ou por receitas emitidas. Advogados de ambos os campos dizem ser difícil estimar quanto tempo será necessário para resolver o litígio, embora todos concordem que provavelmente levará anos. Enquanto isso, Harshbarger continuará enviando às autoridades locais as contas de necrópsias das vítimas de overdose. “Minha situação é algo peculiar”, diz ele, ponderando ser uma das poucas pessoas a se beneficiar – financeiramente, ao menos – da crise. “Minha carga de trabalho aumentou, e minha renda também”.

Valor Econômico