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sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Ciência busca maneiras mais eficientes para ajudar pessoas com dermatite atópica

Medicamentos mais modernos e ações de conscientização têm ajudado no enfrentamento da doença cutânea que pode levar paciente ao isolamento diante do preconceito

“Imagine milhares de mosquitos mordendo você. Juntos. E essa sensação se repetindo diversas vezes ao dia.” Essa é a metáfora usada por Michael Cork, pesquisador da Universidade de Sheffield, no Reino Unido, para descrever a sensação de um paciente com dermatite atópica. A inflamação crônica que atinge tanto adultos quanto crianças e afeta de 10% a 15% da população em alguma época da vida é caracterizada por coceira e manchas na pele. Além desses incômodos, pode afetar a vida social dos pacientes - o desempenho nos estudos e no trabalho costuma ser afetado, por exemplo – e desencadear problemas emocionais graves, como a depressão.

Tantas complicações têm levado cientistas a buscar formas mais eficientes de recuperar a qualidade de vida de pacientes, soluções que passam pelo desenvolvimento de medicamentos e reforço da necessidade de esclarecer a população sobre a dermatite atópica - mesmo não contagiosa, ela leva ao isolamento pela desinformação e pelo preconceito alheios.

Nessa primeira frente, os imunobiológicos, medicamentos feitos a partir de materiais vivos, estão entre as principais apostas. Projetados para atingir um alvo específico da doença, ao contrário dos farmacológicos tradicionais, com ação mais disseminada, eles são mais eficientes, além de ter os efeitos colaterais reduzidos.

“A dermatite atópica possui fatores que envolvem a barreira cutânea e também os emocionais. Cada vez mais, eles estão sendo esclarecidos, o que facilita as terapêuticas que são mais diretas com relação à inflamação que causa essa doença. Acho que agora, no século 21, a tendência é você poder ir direto ao ponto, ser cada vez menos agressivo, reduzindo, assim, os efeitos colaterais”, ressalta Valéria Aoki, professora-associada do Departamento de Dermatologia da Faculdade de Medicina da USP.

Durante o 26º Congresso Europeu de Dermatologia e Venereologia (EADV), em Genebra, em setembro, especialistas apresentaram estudo que mostra a ação da dupilumab, um imunobiológico, em pacientes com casos graves da doença. Eles usaram o anticorpo monoclonal humano projetado para inibir simultaneamente a sinalização hiperativa de citocinas IL-4 e IL-13 (Veja infográfico).

A substância foi usada no tratamento de 325 pacientes adultos que não podiam utilizar ou não respondiam positivamente ao uso da droga ciclosporina, prescrita nos tratamentos tradicionais. “Na condição moderada a grave, alguns pacientes param a terapia com ciclosporina por intolerância ou falta de eficácia, ou não são candidatos por causa de outras condições médicas ou medicamentos contraindicados”, explica Marjolein De Bruin-Weller, especialista do Centro de Dermatite Atópica do Centro Médico Universitário de Utrecht, nos Países Baixos, uma das autoras.

A análise durou 16 semanas, e os 325 pacientes foram divididos em três grupos. Um recebeu 300mg de dupilumab semanalmente; outro, a cada duas semanas; e o terceiro grupo o placebo. Os medicados tiveram diminuição considerável dos sintomas. “O uso de dupilumab combinado com corticosteroides tópicos melhorou as medidas gerais de gravidade da doença, incluindo lesões, coceira, medidas de qualidade de vida e sintomas de ansiedade e depressão”, diz Bruin-Weller.

Para os autores, os resultados sinalizam que a substância poderá ser usada em pacientes que tentaram as abordagens terapêuticas existentes, mas não conseguem alcançar resultados positivos. “Eles têm poucas opções de tratamento. Todos os resultados dos estudos com dupilumab demonstram a importância da via IL4-IL-3 na dermatite atópica. Esse é um alvo interessante para outras drogas”, ressalta Bruin-Weller.

Mesma linha
Pelo menos outras três moléculas com ações semelhantes à da dupilumab estão em testes, com previsões de divulgação de resultados entre 2020 e 2022. “Temos estudos em fase dois e três. É um tempo realmente animador. As pesquisas estão evoluindo no tratamento não só de adultos, mas também na área pediátrica”, afirma Eric Simpson, professor de dermatologia na Universidade do Oregon (EUA).

Valéria Aoki destaca que os pesquisadores brasileiros também têm investido nos imunobiológicos. “No Brasil, há muitos pacientes, mas a maioria não tem a forma mais grave da doença. Temos promessas de novos medicamentos imunobiológicos e já contamos com estudos em andamento no nosso país, o que nos traz esperança de que essas terapias possam ser usadas nos próximos anos”, conta a professora da USP.

“Agora, outro ponto importante a destacar é como é fundamental identificar os pacientes que poderão fazer uso desses remédios, pois temos critérios a serem preenchidos”, ressalta a especialista. A substância dupilumab é utilizada para o tratamento da dermatite atópica nos EUA. No Brasil, a liberação para a sua prescrição está em processo de análise na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Saúde Plena

A surpreendente razão pela qual os inventores da pílula anticoncepcional decidiram que as mulheres deveriam continuar menstruando

Você já se perguntou por que a pílula deve ser tomada por três semanas e seu uso, interrompido na quarta? Alguns podem imaginar que seus criadores tenham feito isso por razões médicas, mas o motivo não foi científico, mas cultural

A pílula anticoncepcional é considerada por muitos como um símbolo da emancipação feminina ao permitir a elas ter relações sexuais sem medo de engravidar. No entanto, a história por trás do seu desenvolvimento não teve muito a ver com essa ideia.

Por exemplo: você já se perguntou por que o ciclo de uso pílula envolve tomá-la por três semanas e interromper o uso (ou adotar um placebo) na quarta semana? Alguns podem imaginar que seus criadores, John Rock e Gregory Pincus, tenham feito isso por razões médicas, mas o motivo não foi científico, mas cultural.

Rock era um católico devoto, e para ele era importante obter a aprovação do Vaticano. Por isso, ele queria que o sistema anticoncepcional fosse o mais parecido possível com outro já aprovado pela Igreja Católica, o método rítmico, conhecido popularmente como tabelinha, que consiste em não fazer sexo no período de ovulação, quando a mulher está fértil.

Por isso, Rock pensou que, se a pílula emulasse o ciclo natural, poderia ser vista com bons olhos pelo papa. Mas seu plano fracassou. A pílula foi aprovada em 1960 e tornou-se muito popular, mas a Igreja levou quase uma década para se manifestar publicamente e, quando o fez, condenou o método por considerá-lo “artificial”.

Esquecimento
A essa altura, a principal preocupação já não era a Igreja, mas as mulheres. Como se tratava da reprodução (de evitá-la, para ser mais preciso), alguns homens se preocupavam em deixar essa responsabilidade na mão delas. O sistema criado por Rock e Pincus exige que as mulheres sigam com muita atenção seu ciclo de uso, tomando a pilula por 21 dias e interrompendo por sete. Caso se esqueçam de alguma dose, perde-se o efeito anticoncepcional.

Preocupado com a possibilidade de sua mulher se esquecer da pílula diária, um homem chamado David Wagner, que era pai de quatro filhos, criou em 1961 uma embalagem redonda que permite ver se a mulher está tomando a pílula corretamente. Várias empresas farmacêuticas copiaram o modelo, que segue popular ainda hoje em alguns países.

A forma de promover essa nova apresentação da pílula revela muito sobre aquela época, como ressaltou a jornalista Leila Ettachfini em um artigo no site Broadly. “Fácil para que você explique… e para que ela use”, dizia um anúncio de 1964 da empresa Ortho-Novum. Outra publicidade, de 1969, da marca Lyndiol dizia aos médicos para “proteger sua paciente do próprio esquecimento”.

‘Nenhuma razão médica’
Muitos especialistas acreditam que os inventores da pílula podiam ter evitado tudo isso — e não apenas porque a sociedade finalmente aceitou, com o tempo, que as mulheres não precisavam de um homem para lhes explicar nada.

O médico baiano Elsimar Coutinho, coautor do livro Menstruação, a Sangria Inútil (Gente, 1996), argumenta que “a ovulação incessante não cumpre nenhum propósito” e que as mulheres, se assim quiserem, podem tomar a pílula por períodos mais longos para evitar não apenas a gravidez, mas a própria menstruação, que é muitas vezes incômoda e dolorosa.

O jornalista e sociólogo Malcom Gladwell apoiou essa ideia em 2000 em um ensaio publicado na revista “The New Yorker” sobre o ciclo de 28 dias idealizado por Rock e Pincus dizendo: “Não havia e não há nenhuma razão médica para isso”. Coutinho, diz Gladwell, destaca que a menstruação gera uma série de problemas de saúde que poderiam ser evitados ao suprimi-la: dores abdominais, alterações no estado de ânimo, enxaquecas, endometriose e anemia.

Por sua vez, Ettachfini afirmou em seu artigo que na verdade existem dois anticoncepcionais orais que podem ser tomados de forma contínua, sem sangramentos mensais. O Seasonale foi lançado em 2003 e propõe só quatro menstruações por ano: uma a cada estação. E, em 2007, foi aprovada a primeira pílula sem pausas para menstruar, a Lybrel.

Críticos
Ainda que chame atenção o fato de que poucas mulheres saibam que podem optar por não menstruar, também não há um consenso de que isso seja uma boa ideia. Há cientistas que inicialmente advertiram não haver estudos consistentes sobre o efeito para uma mulher de não menstruar por longos períodos de tempo. Mas especialistas concordam que isso não gera problemas de saúde.

Há ainda quem alerte sobre os perigos de se tomar a pílula, em especial por períodos prolongados. O site Broadly publicou um ano atrás que há cada vez mais estudos que falam da existência de um vínculo entre o uso de anticoncepcionais hormonais e a depressão, citando um uma pesquisa dinamarquesa que mostrou que adolescentes que tomavam a pílula tinham “um risco 80% maior” de terem de tomar antidepressivos.

Por outro lado, para algumas mulheres, menstruar é uma parte fundamental de sua identidade, ainda que outras se recusem a associar o ciclo reprodutivo com a identidade de gênero. A certeza é que, no fim das contas, o importante é que as mulheres saibam que têm mais de uma opção.

G1